Miguel Seabra é um grande amigo do festival Mindelact. Quando cá veio pela primeira vez, em 1999, o Teatro Meridional era ainda um projecto teatral multinacional, com actores espanhóis, italianos e portugueses. Fizeram uma versão do “Romeu e Julieta” com três homens, um inesquecível monólogo “Calisto” e uma co-produção, “Cloun Creolus Dei”, com o Grupo de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo.
Depois disso viriam mais quatro vezes protagonizando alguns dos mais belos momentos da história mindelactiana. Miguel Seabra é, já todos o sabemos, um encenador extraordinário. Mas nunca tinha pisado as tábuas da cena em Mindelo. Estava reservado para os vinte anos do festival, num espectáculo que comemorou os vinte e cinco anos da companhia Teatro Meridional.
“O Sr. Ibrahim e as Flores do Corão” trouxe-nos uma maneira nova de contar uma história. Como num tapete de Simbad, viajamos ao sabor do vento, das palavras das personagens, do sorriso do Miguel-ator e das sonoridades mágicas criadas pelo acompanhamento sublime do músico Rui Rebelo. Esta foi a noite do triunfo da simplicidade. Tão complexo o caminho para se lá chegar!
Se existisse na vida real e entendesse de teatro, indo perguntar-se ao Sr. Ibrahim o que é mais difícil de conseguir na arte cénica, ele nos diria certamente: “a simplicidade, Momo. A simplicidade é o mais difícil.”
Cabo Verde, em geral, e o Mindelo, em particular, só tem que agradecer, uma vez mais, ao Miguel e ao Teatro Meridional por mais uma incrível aula de teatro. Ou como diria o poeta, os complexados que me desculpem, mas simplicidade é fundamental.