Um texto de Samira Pereira (produtora cultural)
João: eu não sei nada de teatro, na realidade nem gosto muito de teatro: que dizer gosto mas não é bem como se gosta: tenho uma profunda admiração, respeito e carinho pelo teatro. Admiro os jogos, as luzes, as cumplicidades, os pormenores, o silêncio (na maior parte das vezes mais do que o texto); respeito os actores pela nudez, pela generosidade e pela verdade a que se expõem quando retiram esta nossa confortável máscara do dia-a-dia e se sujeitam ao desafio de nos enfrentar: o público representando o seu papel sentado e confortável de receptor. e muito carinho pelas pessoas, e são tantas!, que "são do teatro" e amo: elas ensinaram-me a gostar de teatro: desta forma de quem não gosta.
Algumas peças mostraram-me um teatro mais "marado" e aí senti-me mais espectadora, tive mais prazer individual e descobri que gosto de teatro "alternativo", contemporâneo... sinceramente não sei de que teatro se trata,ou lá como possa chamar, mas é esse o tal de teatro que me dá gozo.
já com nestas linhas deves ter compreendido que eu me confesso: o fenómeno, a mobilização, a produção, o público, a coragem seduzem-me bem mais do que o teatro em si... o que é isto de teatro em si? não sei... mas quando me refiro ao teatro em si sei que está enquadrado no espectáculo: a ponta do iceberg.
Tempestad foi mais um iceberg no glaciar do teatro: o espectáculo encerrou em si tudo o que gosto: admiração, respeito e carinho.
Uma admiração profunda pela "fotografia" e, principalmente, pela mestria: Shakespeare em kriol é sab d'mund e é um orgulho. Recordo-me de ter sentido um orgulho assim quando vi a opera Crioulo, do Tony Tavares, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa: orgulho deste exercício de cabo-verdianidade ao reinventar os outros com sabor de nos terra. E fizeram-no com elegância. Por isso respeito toda a massa humana que se dedicou para que o teatro em si fosse perfeito enquanto tal. O carinho que sinto é o que recebi: generosamente tanto e tão bom trabalho! Por amor MESMO, pois dizes muito bem que fazer teatro em Cabo Verde é difícil... Aprecio a generosidade, a entrega, a verdade, o brio, o empenho, o trabalho (ou melhor a trabalheira)... e tudo isto por amor...
Será que alguém acredita, para lá destas ilhas, que 90% não são profissionais: ou seja, não dependem economicamente do teatro para viver, logo empenhando pelo menos 8 horas por dia, 7 dias por semana, a uma profissão, trabalhando por amor ao teatro nos "tempos livres"? A estudar os textos, as marcações, as luzes, as cenas, as contracenas...com a certeza de meia dúzia de apresentações...
Fazer tudo isto por amor e partilhar esse acto de amor como aconteceu com Tempêstad foi brutal... obrigada.
João: eu não sei nada de teatro, na realidade nem gosto muito de teatro: que dizer gosto mas não é bem como se gosta: tenho uma profunda admiração, respeito e carinho pelo teatro. Admiro os jogos, as luzes, as cumplicidades, os pormenores, o silêncio (na maior parte das vezes mais do que o texto); respeito os actores pela nudez, pela generosidade e pela verdade a que se expõem quando retiram esta nossa confortável máscara do dia-a-dia e se sujeitam ao desafio de nos enfrentar: o público representando o seu papel sentado e confortável de receptor. e muito carinho pelas pessoas, e são tantas!, que "são do teatro" e amo: elas ensinaram-me a gostar de teatro: desta forma de quem não gosta.
Algumas peças mostraram-me um teatro mais "marado" e aí senti-me mais espectadora, tive mais prazer individual e descobri que gosto de teatro "alternativo", contemporâneo... sinceramente não sei de que teatro se trata,ou lá como possa chamar, mas é esse o tal de teatro que me dá gozo.
já com nestas linhas deves ter compreendido que eu me confesso: o fenómeno, a mobilização, a produção, o público, a coragem seduzem-me bem mais do que o teatro em si... o que é isto de teatro em si? não sei... mas quando me refiro ao teatro em si sei que está enquadrado no espectáculo: a ponta do iceberg.
Tempestad foi mais um iceberg no glaciar do teatro: o espectáculo encerrou em si tudo o que gosto: admiração, respeito e carinho.
Uma admiração profunda pela "fotografia" e, principalmente, pela mestria: Shakespeare em kriol é sab d'mund e é um orgulho. Recordo-me de ter sentido um orgulho assim quando vi a opera Crioulo, do Tony Tavares, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa: orgulho deste exercício de cabo-verdianidade ao reinventar os outros com sabor de nos terra. E fizeram-no com elegância. Por isso respeito toda a massa humana que se dedicou para que o teatro em si fosse perfeito enquanto tal. O carinho que sinto é o que recebi: generosamente tanto e tão bom trabalho! Por amor MESMO, pois dizes muito bem que fazer teatro em Cabo Verde é difícil... Aprecio a generosidade, a entrega, a verdade, o brio, o empenho, o trabalho (ou melhor a trabalheira)... e tudo isto por amor...
Será que alguém acredita, para lá destas ilhas, que 90% não são profissionais: ou seja, não dependem economicamente do teatro para viver, logo empenhando pelo menos 8 horas por dia, 7 dias por semana, a uma profissão, trabalhando por amor ao teatro nos "tempos livres"? A estudar os textos, as marcações, as luzes, as cenas, as contracenas...com a certeza de meia dúzia de apresentações...
Fazer tudo isto por amor e partilhar esse acto de amor como aconteceu com Tempêstad foi brutal... obrigada.