No derradeiro dia do festival, outra trupe de resistentes, heróis, incansáveis lutadores. Refiro-me, claro, aos Raiz di Polon, que, sob a batuta do coreografo Mano Preto, tiveram honra de encerramento deste inesquecível ano vinte, com aquela energia de sempre, aquele frenesim de gestos e cabelos, aquela exploração feliz de ritmos tradicionais e o seu casamento com uma dança sempre nova, melhor, em constante renovação. Já vieram muitas vezes a este festival de teatro e isso não acontece por acaso. Eles são teatrais, são cénicos, são performativos, contam histórias, os espectáculos tem narrativas claras e são, para todos os artistas de palco, uma grande referência.
Melhor encerramento não podia haver... E agora? Vamos fazer a festa no pátio do Centro Cultural do Mindelo. Os jovens das mais novas companhias assumem o protagonismo e não fazem a mais pequena ideia do que se passará depois. Os coordenadores não escondem o cansaço, esgotados mas satisfeitos. Vamos dançar! Esquecer que amanhã haverá certamente contas por pagar. A casa para arrumar. Credores em fúria. Compromissos assumidos que ainda não foram honrados por instituições públicas e que obrigam gente boa a sentir-se um pouco como bandido, sem vontade sequer de atender o telefone. E agora? E agora, eu pergunto até quando? Até quando teremos que viver no limiar da sobrevivência, ouvindo e sentido os elogios todos os anos nas cerimónias de abertura e encerramento, para depois voltarmos ao mesmo sufoco de sempre. E agora? E agora eu pergunto, até quando?
Ao Festival Mindelact, a este incrível evento, único e especial, merecedor de todos os elogios, o Pais deve mais. Deve dar mais. Ter consciência deste movimento de artistas, que oferece todos os anos ao povo de Cabo Verde a mais improvável e rica actividade cultural de sempre.